Meu livro querido!

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domingo, 24 de abril de 2011

FATOS INTERESSANTES SOBRE AS CONJUNÇÕES COORDENATIVAS

ÄNa postagem sobre conjunções coordenativas, vimos que o pois pode ser conclusivo ou explicativo. Como estabelecer a diferença? Bem, pelos exemplos citados, percebemos que o pois explicativo fica sempre no início de sua oração, o que não ocorre com o conclusivo. Mas não basta deslocar tal conjunção dentro de uma oração para transformá-la em explicativa ou conclusiva. É necessário observar a relação de sentido que há entre as orações. Observe:

Sejamos gratos a Deus, pois ele nos deu a vida.
1.ª Oração                                             2.ª Oração

Deus nos deu a vida, portanto sejamos gratos a ele.
1.ª Oração                                2.ª Oração

(Lembrete: Cada oração contém um verbo ou locução verbal.)

            Na primeira frase, a 2.ª oração apresenta uma explicação, ou seja, uma justificativa para a ideia enunciada na 1.ª oração. Se alguém diz que devemos ser gratos a Deus, é bom que se apresente uma justificativa para tal declaração. Essa justificativa é apresentada pela conjunção pois.
Na segunda frase, a 2.ª oração apresenta uma conclusão, ou seja, um ponto de chegada para o que foi enunciado na 1.ª oração. Sabemos que a vida é a maior bênção que temos. Se alguém diz que Deus nos deu a vida, concluímos logicamente que devemos ser gratos a Ele. Essa conclusão é apresentada pela conjunção portanto.
A conjunção conclusiva é flexível no sentido de que pode assumir outras posições dentro da oração a que pertence. Sendo assim, podemos reescrever a segunda frase das seguintes formas, por exemplo:

Deus nos deu a vida, devemos, portanto, ser gratos a Ele.
Deus nos deu a vida, devemos ser gratos a Ele, portanto.
Deus nos deu a vida, devemos, por isso, ser gratos a Ele.
Deus nos deu a vida, devemos, logo, ser gratos a Ele.

Isso requer a colocação de vírgulas intercalando a conjunção. Quando há esse deslocamento da conjunção dentro da oração conclusiva, pode-se ainda empregar a conjunção pois expressando conclusão.

Deus nos deu a vida,  / devemos, pois, ser gratos a Ele.
         1.ª Oração                                         2.ª Oração

            Nesse caso, a conjunção pois não está iniciando a oração a que pertence. É isso que quer dizer “pois” não iniciando oração. Veja outros exemplos:


Explicativo: Reconcilie-se com seu irmão, pois não é bom guardar raiva.
Conclusivo: Não é bom guardar raiva, reconcilie-se, pois, com seu irmão.

Explicativo: Não podemos maltratar as árvores, pois elas nos são úteis.
Conclusivo: As árvores nos são úteis, não podemos, pois, maltratá-las.

Explicativo: Marta e Maria ficaram felizes, pois Cristo ressuscitou Lázaro.
Conclusivo: Cristo ressuscitou Lázaro; Marta e Maria ficaram, pois, felizes.

Percebe o que ocorre nos exemplos acima? A oração conclusiva é o inverso da explicativa.

ÄEssa possibilidade de deslocamento da conjunção ocorre também com as adversativas, exceto o mas. Tomemos como exemplo o seguinte versículo:

“Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, mas tu não serás atingido.” (Sl.91.7)

            Substituindo a conjunção mas por suas correspondentes, temos:

Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, porém tu não serás atingido.
Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, todavia tu não serás atingido.
Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, contudo tu não serás atingido.
Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, entretanto não serás atingido.

Veja que essas conjunções estão no início da oração a que pertencem; podem ainda deslocar-se dentro dela, situação em que ficam intercaladas (entre vírgulas ou entre vírgula e ponto). Observe:

Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, tu, porém, não serás atingido.
Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, tu não serás, porém, atingido.
Mil cairão ao teu lado e dez mil à tua direita, tu não serás atingido, porém.

E qualquer das adversativas (exceto o mas, repito) pode ocupar a mesma posição do porém.

ÄAs conjunções adversativas, as explicativas e as conclusivas sempre são antecedidas de algum sinal de pontuação (geralmente a vírgula, ou ainda o ponto-e-vírgula ou o ponto-final) quando estiverem ligando orações.

“Tu semearás , mas não segarás; pisarás a azeitona , mas não te ungirás com azeite...” (Mq.6.15)

“Bem vi eu o louco lançar raízes ; mas logo amaldiçoei a sua habitação.” (Jó 5.3)

“Em toda a angústia deles foi ele angustiado, e o anjo da sua face os salvou; pelo seu amor, e pela sua compaixão ele os remiu; e os tomou, e os conduziu todos os dias da antiguidade . Mas eles foram rebeldes, e contristaram o seu Espírito Santo; pelo que se lhes tornou em inimigo, e ele mesmo pelejou contra eles . Todavia se lembrou dos dias da antiguidade, de Moisés e do seu povo...” (Is.63.9-11)

“Preparai a guerra contra ela, levantai-vos, e subamos ao pino do meio-dia: ai de nós! que já declina o dia, que já se vão estendendo as sombras da tarde.” (Jr.6.4)
(“que” explicativo, equivale a “pois”)

“Amo o Senhor, porque ele ouviu a minha voz e a minha súplica. Porque inclinou para mim os seus ouvidos ; portanto invocá-lo-ei enquanto viver.” (Sl.116.1-2)

Contudo, se não estiverem ligando orações (o que é comum com as conjunções mas e porém), dispensam a vírgula. Veja alguns exemplos de conjunções ligando adjetuvos:

“...e era este varão homem valoroso porém leproso.” (II Re.5.1) 
                                                          
Rica mas sóbria como um templo grego.” (Olavo Bilac)

“Uma luz bruxuleante mas teimosa continuava a brilhar nos seus olhos.” (Miguel Torga)

“Excitação violenta mas passageira...” (Júlio Ribeiro)

“...ali estava como o documento vivo das suas misérias, já passadas mas ainda palpitantes.” (Aluísio Azevedo)

ÄEmbora não seja comum, às vezes ocorrem duas conjunções adversativas juntas, o que pode ser entendido como uma necessidade de reforçar o que se vai dizer.

“Porém Faraó lhe disse: Pois que te falta comigo, que eis que procuras partir para a tua terra? E disse ele: Nada, mas todavia despede-me.” (I Re.11.22)


ÄÉ interessante também ressaltar a ortografia de certas palavras.

Contudo X Com  tudo

·         Contudo: Conjunção adversativa.

“Muitas vezes os livrou; mas eles provocaram-no com o seu conselho, e foram abatidos pela sua iniquidade. Contudo, atentou para a sua aflição, ouvindo o seu clamor.” (Sl.106.43-44)

·         Com tudo: Preposição com e pronome indefinido tudo.

“Não refrearam o seu apetite. Ainda lhes estava a comida na boca, quando a ira de Deus desceu sobre eles, e matou os mais fortes deles, e feriu os escolhidos de Israel. Com tudo isso ainda pecaram, e não deram crédito às suas maravilhas.” (Sl.78.30-32)

É interessante observar que a expressão com tudo, no versículo acima, vem seguida do pronome pronome demonstrativo isso. Se não houvesse o pronome, utilizaríamos a conjunção contudo. Veja como ficaria sem o "isso":

Não refrearam o seu apetite. Ainda lhes estava a comida na boca, quando a ira de Deus desceu sobre eles, e matou os mais fortes deles, e feriu os escolhidos de Israel. Contudo ainda pecaram, e não deram crédito às suas maravilhas.

Daí podemos inferir que a conjunção contudo teve sua origem na expressão com tudo. Veja que, semelhantemente ao que aconteceu no exemplo de Sl.78.30-32, se acrescentarmos o pronome isso no versículo de Sl.106.43-44, a conjunção contudo será trocada pela expressão com tudo.

Muitas vezes os livrou; mas eles provocaram-no com seu conselho, e foram abatidos pela sua iniquidade. Com tudo isso, atentou para a sua aflição, ouvindo o seu clamor.

Compare ainda estas frases:

Ele ganhou muitos presentes; está feliz com tudo.
Ele não ganhou presentes; está feliz, contudo.

No primeiro exemplo, ele está feliz com todos os presentes que ganhou. No segundo, ele não ganhou presentes, mas está feliz assim mesmo.
                       
Outros exemplos do uso de com tudo:
Aquela situação mexeu com tudo que nós tínhamos.
Certas pessoas sonham com tudo que veem.
Com tudo que tinha, parecia um homem feliz.
Ela implica com tudo que vê.

Portanto X Por  tanto

·          Portanto: Conjunção conclusiva.

“Mas este, porque permanece eternamente, tem um sacerdócio perpétuo. Portanto pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus...” (Hb.7.24-25)

·         Por tanto: Preposição por e pronome indefinido tanto (e flexões).

Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim.” (Milton Nascimento)

Observe que a expressão por tanto vem seguida de substantivo. Compare estas duas frases:

Ele fez tudo corretamente e sem reclamar. É preciso recompensá-lo por tanto empenho.

Ele fez tudo corretamente e sem reclamar. É preciso recompensá-lo, portanto.

Daí podemos inferir que a conjunção portanto teve sua origem na expressão por tanto.

Conversa com o leitor

É particularmente curioso o fato de que algumas palavras desafiam a semântica e se prestam a serviços extras, assumindo funções que lhes não seriam naturais, mas perfeitamente reconhecíveis pelo contexto. Parecem agir assim para fugir ao marasmo da rotina disciplinada e metódica, como bois sonsos que varam curral. Exemplos disso são as palavras , como, quanto e enquanto, que às vezes assumem valor aditivo, conforme se observa nos exemplos abaixo:

·          “Porque assim o que santifica, como os que são santificados, são todos um...” (Hb.2.11)
(O que santifica e os que são santificados são todos um.)

·          Gênesis é o primeiro livro da Bíblia; Apocalipse é o último.
(Gênesis é o primeiro livro da Bíblia, e Apocalipse é o último.)

·          Não misture os fatos: Daniel foi lançado na cova dos leões, enquanto Jonas foi engolido pela baleia.
(Daniel foi lançado na cova dos leões, e Jonas foi engolido pela baleia.)

·          Tanto Pedro quanto João eram pescadores.
(Pedro e João eram pescadores.)

·          Cristo tanto curou enfermos quanto salvou almas.
(Cristo curou enfermos e salvou almas.)


Interessante, não acha? Logo tem mais.




Um comentário:

  1. Parabéns,meu irmão!Essa técnica é bastante eficiente;pois ensina português e,concomitantemente,evangeliza.
    Deus o abençoe,em nome de Jesus!

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